Quando o paciente não consegue se expressar em palavras – alternativas terapêuticas
Os psicólogos, em sua prática da psicologia clínica, têm como uma das ferramentas principais o uso da técnica da conversação. É através da conversa terapêutica que o paciente consegue expressar sua dor, frustrações e dificuldades vividas no cotidiano e o psicólogo, com sua escuta empática e reflexiva, produz perguntas e diálogos que proporcionem uma maior conscientização e autoconhecimento deste paciente em sofrimento. Ao conversar o paciente usa todos os recursos possíveis naquele momento, fala de seus sentimentos, dificuldades e muitas vezes fala de sua dor através da descrição do comportamento de algum parente, vizinho, amigo ou cônjuge que o incomoda. Ao descrever suas reações às situações do dia a dia o paciente oferece ao psicólogo o material de trabalho para intervir neste caso.
Mas e quando o paciente não fala, como podemos ajuda-lo a elaborar e expressar o que sente? Bom, temos pelo menos duas situações que podemos destacar. A primeira é quando o paciente não fala porque não quer falar. Talvez ainda não sinta confiança para abrir ao seu psicólogo alguns assuntos mais íntimos e importantes e neste caso, apenas o tempo e a relação entre paciente e psicólogo poderá auxiliá-lo devendo o psicólogo respeitar este tempo necessário.
Alguns pacientes despejam tudo que lhe afligem nas primeiras sessões, outros apenas depois muitas sessões sentem-se confortáveis para contar algo que realmente importa. Quando o paciente fala o que precisa ser dito o psicólogo percebe como se uma pedra fosse tirada do caminho e o processo psicoterapêutico avança de forma surpreendente.
A segunda situação importante na prática da psicologia clínica ocorre quando percebemos que o paciente está angustiado, sofre e gostaria de falar, no entanto ele não encontra palavras que representem o que ele está sentindo. Neste caso o psicólogo pode e deve usar técnicas expressivas.
As técnicas expressivas são técnicas que envolvem a expressão dos conteúdos do paciente através da utilização de materiais plásticos. Podemos utilizar como base o papel de diversos tamanhos e diversas cores associado a tinta, lápis de cor, hidrocor, cola, gravuras, entre outros. O paciente pode escolher o material de trabalho ou o psicólogo pode oferecer de acordo com o seu objetivo. Desta forma o paciente poderá expressar sentimentos e angústias, que talvez estejam em um nível pré-verbal, através da forma que usa o material e das imagens que produz.
Com o resultado de sua produção expressiva o psicólogo poderá observar a forma com que foi usado o material, a produção de imagens e dialogar com o paciente sobre esta experiência, sobre o que ele representou e a sua sensação. É importante ressaltar que o psicólogo não deve fazer interpretações neste momento já que a expressão do paciente vem de uma camada pré-verbal, portanto não há ainda palavras para descrever o que está ali. Neste caso seria mais interessante pedir ao paciente que conte algo ou alguma história sobre sua produção. É provável que muitos diálogos novos surjam a partir do uso desta técnica.
Psicóloga Marisa Gaspar
CRP 05/33597